Show do Paulo em São Paul pt. 2

Onde estávamos mesmo? As drogas e o tempo são os inimigos da boa memória, meus amigos. Eu me lembro de quando era jovem e tinha apenas 15 anos. Minha memória era uma belezura.

Ah, sim, eu começava a me foder. Nós decidimos que era hora de levantarmos nossas gordas bundas das cadeiras e irmos para o show. Assim que pisamos fora do shopping, começou a chover. Sempre que tem um show, meu cabelo fica uma merda. O suor, o cuspe do maloqueiro atrás de mim, a cerveja e fumaça de cigarro por todos os lados, tudo influencia para foder a minha chapinha. Mas você só percebe o estrago depois que o show acaba. Pelo menos, no Rio de Janeiro. Em São Paulo até o clima é programado para me foder já que começou a chover ANTES do show.

E uma diferença fatal entre a chuva do Rio de Janeiro e São Paulo é que no RJ, quando chove, a água é temperatura ambiente, e como o clima esta invariavelmente quente, você não sente frio com chuva. Em São Paulo não. As gotas da chuva são pesadas e geladas, do tipo que cada gota no rosto parece que você está levando um tapa da Rainha do Gelo de Nárnia. E nem vou falar do fato de que a chuva de São Paulo é mais suja que o esgoto do Complexo do Alemão devido a tanta poluição que aquela cidade emite, né.

Mazintão. Pegamos o metrô (eu, meu irmão, as duas minas e o boiolinha gente boa) e ele estava assustadoramente vazio. Não que ele estivesse, de fato, vazio, mas ele tava menos absurdamente cheio do que acreditamos que ele estaria. Digamos que ele não te colocava pensando “nossa, será que dois corpos realmente não podem ocupar o mesmo espaço?”, e isso é algo muito raro em São Paulo, parece.

Eu e meu irmão encontramos um ônibus vazio enquanto passeávamos de manhã. Tiramos uma foto pra provar que ele realmente existe.

Depois de pegarmos o metrô, precisávamos ir até uma rua (que não sabíamos onde era) pegar um busão (que não sabíamos ao certo qual era). A chuva tava ficando mais forte e, por consequência, mais frequentemente eu levava tapas na cara da Rainha do Gelo. Perguntamos pra uma senhora aonde ficava a tal rua onde pegaríamos o tal ônibus e a moça informou errado. Aham. Sorte que depois as meninas se acharam e nós pegamos o ônibus – dessa vez não tivemos tanta sorte.

O filho da puta tava cheíssimo, do tipo que o pessoal não conseguia passar da roleta e não conseguia sair do ônibus, dai não conseguia chegar em casa, suas mulheres achavam que eles as estavam corneando, batia nos filhos, chutava a cachorra, despejava as roupas na rua, xingava a mãe, escrevia uma carta de suicídio e se jogava do sétimo andar, caindo em cima do carro do vizinho – o qual a empresa de ônibus se recusava a pagar o conserto e a dívida recaía sobre o pobre viúvo.

Mas quem liga pra isso tudo, afinal? Eu estava indo para o show do Senhor Paulo McCartney.

Depois de mais ou menos 40 minutos dentro do ônibus, chegamos ao estádio e eu já tava praticamente dormindo em pé. Percebam que até agora eu viajei de ônibus, passei o dia inteiro andando, fiquei mais de um hora em um busão lotado e molhado e estava há mais ou menos 30 horas sem dormir. Um Redbull se fazia tão necessário quanto uma coisa muito necessária se faz necessária num momento de necessidade.

Andamos quilômetros atrás de um redbull – o que esses paulistas tem contra redbull, hein? Não vendia em lugar nenhum! – e, quando o achamos, andamos mais um quilômetro atrás de nossos ingressos. Novamente lhes pergunto: como esses paulistas conseguem ser obesos?

WIN

Munidos de nossos ingressos, nos dirigimos para os nossos locais na platéia – os piores possíveis. Távamos gastando uma fortuna com a porra toda, então resolvemos economizar nos ingressos comprando cadeira azul, que por um acaso era a mais alta e mais longe do palco. Eu e meu irmão achamos que sentar mais alto deixaria a parada mais aventureira. Por essas e outras que o dicionário da língua portuguesa colocou uma foto nossa para ilustrar melhor o conceito de “idiota”.

Quanto mais alto, mais chove. E tava chovendo muito, amigos. E faltavam 4 horas pra começar o show. E meu tênis tava enxarcado. E a porra do redbull não tava fazendo efeito. E tinha um careca chato na minha frente que reclamava comigo e com meu irmão por FALARMOS ALTO e por cantarmos a playlist que tocava antes do show. Ah, a playlist.

Acho que de todos os shows que eu já fui (e olha que eu já fui em muitos) a playlist pré-show daquele foi o pior de todos. Manos, o cara deve ter pego um CD que ele usa pra ninar o filho e posto pra tocar num estádio com 60 mil pessoas. A parada era um pouco mais bizarra do que uma mistura de reggae antigo com música eletrônica, mantras budistas e uma pitada de Menudo. E foi isso durante 4 horas muito molhadas.

MUITO molhadas.

Sistema de escoamente? Naah, paulistas não aprovam. Meus pés ficaram embaixo de uma POÇA, que era como podíamos chamar o chão naquele instante. E a poça chegava na metade da minha canela, manos. Aquilo começou a me surtar, por que eu imaginava a situação do meu pé depois de 6 horas embaixo daquele troço. E pior – eu imaginava a minha situação viajando de volta pra casa com o pé depois de ter ficado enxarcado por 6 horas. E a imagem não era lá muito legal.

Uma imagem do céu… às 6 horas da tarde.

Foram longas 3 horas de espera trocando mensagens com a Isa (a mina que tinha ido junto com a gente pra lá. Eu e meu irmão nos separamos do grupo por que eles não foram tão duros quanto a gente e puderam pagar um lugar melhorzinho). Meu irmão ainda fez amizade com o pessoal do nosso lado – eram cariocas também -, mas eu estava cansado demais para quiçá tentar decorar seus nomes.

Aí o Paul entrou no palco e PUTA QUE PARIU FODA-SE A CHUVA E O FRIO E O PÉ E O CARECA E O AQUECIMENTO GLOBAL E

Eu estava vendo Paulo McCartney ao vivo tocando Magical Mistery Tour ao abrir o show. O que foi uma bosta, por que eu tava esperando por Rock Show, mas foi muito legal por que, porra, era Magical Mistery Tour. Basicamente, aconteceu o mesmo que o show do Bon Jovi – ele mudou o setlist do segundo show, deixando as melhores músicas pro primeiro dia. As únicas músicas que eu realmente senti falta foram Rock Show e I’ve Just Seen I Face mas, olhando num geral, o show foi foda.

Quando acabou, eu tava fodido. Se seguiram as piores horas da minha vida. O gênio que formulou o Morumbi simplesmente foi estúpido o suficiente para não pensar em NENHUM modo para as pessoas voltarem pra casa depois do show. Ou você ia de carro, ou você NÃO VOLTAVA PRA CASA.

Não tinha ônibus, não tinha metrô, a rodoviária era longe pra caralho e o engarrafamento tinha proporções até então desconhecidas pelos olhos humanos. Andamos feito verdadeiros filhos das putas e achamos UM ônibus, que nos levou até um metrô – que estava fechado, e só abriria dali a 3 horas.

3 horas.

Meu pé fodido, 36 horas sem dormir, minhas pernas doendo o suficiente preu sentir inveja de um paraplégico, sem comer, sem beber, com peso na mochila e paulistas me obrigaram a esperar 3 horas sentado no chão de um metrô fechado.

Mas foda-se. Valeu a pena. É o Paul.

Eu fui e você não. LALALALALALALAL