Adão era digno de respeito.

Adão é que era feliz mesmo. Como se não bastasse o cara não precisar usar cuecas, não ser obrigado a frequentar a escola, ter dado a primeira bimbada da história, ele ainda não precisava aturar pessoas desconhecidas que, por causa da alta densidade demográfica, são obrigadas a viver no mesmo espaço que você. Assim sendo, toda a obrigação social que Adão tinha era passar o dia observando o corpinho violão de Eva completamente despido o dia inteiro, todo dia.

No entanto, por termos nascidos alguns milhares de anos depois, não temos tanta sorte. Hoje os dias são difíceis, e ocasionalmente ficamos expostos a situações constrangedoras por causa da ideia de algum idiota de colocar casas em cima de outras casas e chamá-las de apartamento, por exemplo. Entre elas:

1 – Banheiro Público

Banheiros públicos são um caso a ser estudado pela humanidade. Quando se entra num banheiro público, cria-se uma linha muito tênue entre sua heterosexualidade e seu instinto Sérginho de ser. Qualquer passo em falso fará você ser julgado por todos ali presentes. A direção do olhar, o mictório utilizado, o jeito como você abre a torneira… tudo isso esta sendo avaliado por todos ali presentes, e poderá e será usado contra você em breve. Por estar exposto a tantos olhos mal intencionados, cria-se uma tensão tornando o banheiro um local deveras constrangedor.

Aliás, eu tenho uma teoria sobre lavar a mão e gostaria de compartilhar com vocês. Veja bem, digamos que dez homens façam xixi. Esse dez homens, ao abrir a torneira, estarão passando todas as bactérias que estavam anteriormente em sua genitália para a torneira. Logo, quando você, o 11º homem que fez xixi for abrir a torneira, você estará tocando em 10 genitálias de completos estranhos. Todas essas bactérias, somadas com as que você já havia carregado da sua própria genitália, lhe forneceram 11 espécies de bactérias de pintos suados na sua mão. Seria como se você tivesse segurado 11 pintos diferentes, e um simples jato d’água não será o suficiente para tirar toda a bactéria ali presente. Nem arrancando sua mão seria possível tal façanha.

E ainda chamam isso de higiene.

2 – Elevador

Possivelmente a situação mais constrangedora do mundo é se encontrar com algum vizinho completamente estranho no elevador. Não que eles sejam estranhos sempre – mas sempre é constrangedor. Tu tá no elevador, todo entretido ajeitando tua franja que por algum motivo inexplicável resolveu amanhecer com uma CRATERA ENORME quando entra aquele negão enorme com a camisa do flamengo e fica te encarando.

Ou ele começará a puxar assunto contigo e você ficará com vergonha, simplesmente concordando com um semblante discreto de sorriso no canto da boca, ou ficará encarando você e suas calças apertadas. No segundo caso, você instantaneamente pegará o celular e fingirá que está vendo alguma coisa interessante – a despeito do fato de nunca ter nada interessante nele -, pois tem deveras medo de encarar o negão de volta. É supimpa.

Mas isso não é tão ruim quanto é quando a pessoa tem a mesma faixa etária que a sua e você se sente na obrigação de socializar com ela, já que, na teoria, vocês tem os mesmos interesses. Acontece que na prática ela ouve Bonde da Stronda. Vontade que dá é de sair do elevador e descer de escada.

3 – Cofrinho

Se vestir decentemente é uma atividade muito perigosa. Usar calças largas simplesmente parece inviável a partir do momento em que você veste uma calça skinny pela primeira vez. Usar uma calça skinny é como ir pro Mundo Mágico de Oz, onde tudo é mais colorido e feliz – e, por incrível que pareça, o não toca Restart nas rádios de lá.

No entanto, usar calça skinny tem um perigo que pode acabar com toda a sua (pouca) reputação – por ela ser apertada, quando você se abaixa, ela leva tua cueca junto.

Uma tática para que tal desastre natural não ocorra, é usar a sua calça no meio da bunda. Mas isso deve ser feito com muito cuidado, para você não ficar parecendo um idiota, tal como o Zac Efron e sua fralda geriátrica azul

Nem deixar tua calça cair no meio da rua. Será um desastre natural pior ainda ver essas coxas pelancudas de leitor de blogs.

4 – Cenas de sexo na presença dos pais.

Está você, seus pais, sua mãe e aquela tia-avó judia de 87 anos assistindo a algum filme juntos. Sua avó judia, tetraplégica desde que sofreu um acidente enquanto fugia nadando da segunda guerra mundial, estava tomando sua canjica quando, de repente, os personagens começam a tirar a roupa e a se enroscar. Amigos, esse é um dos momentos mais constrangedores de todos. Quiçá, mais constrangedor do que encontrar pessoas no elevador.

Os diretores realmente acham que colocar cenas de sexo em filmes aumenta a audiência, mas eles são uns completos idiotas. Eu é quem devia ser diretor. Filmes pornôs deveriam ter somente cenas de sexo – histórinhas são chatas, fica a dica – e filmes de família deveriam ter somente cenas de família. É assim que as coisas são. Juntar tudo seria como colocar o Cine pra abrir o show do Iron Maiden – simplesmente não dá certo.

Se sua mãe for que nem a minha, ela ainda vai gritar “ANDA, FECHEM OS OLHOS, NÃO QUERO MINHAS CRIANÇAS VENDO ESSAS COISAS” para você e seu irmão de 22 anos.

5 – Dormir na casa de um amigo

Minha mãe sempre foi superprotetora e sempre lançou aquele papo de “pra você dormir na casa de algum amigo, eu preciso conhecer a família e todas as gerações passadas da pessoa, pra saber que não são um grupo de seriais killers que irão te cortar no meio com uma faca de manteiga e esconder no vizinho” quando eu pedia pra dormir na casa de algum amigo.

Talvez por isso que até hoje ela só deixa eu dormir na casa de um amigo meu.

Por essa falta de experiência, quando eu raramente durmo na casa desse amigo, sempre chega um momento constrangedor que eu definitivamente não sei como agir – a hora de acordar.

Eu sempre acordo antes, porque eu simplesmente não consigo dormir direito na casa de outras pessoas. Fico deitado horas a fio esperando o maldito decidir acordar. Ele nunca acorda. E ele ainda ronca. E é aquele ronco irritante que arranha a garganta, como se fosse um pato engasgado. Então eu pego uma almofada e jogo na cabeça dele com toda a força que eu tenho. Aí ele acorda e briga comigo. Que outra solução seria cabível aqui, meus excelentíssimos leitores?

Conto com vocês.